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Na postagem #8 aprendemos como encontrar a raiz de um polinômio de grau $1$, que sempre existe, na postagem #9 aprendemos a verificar se um polinômio de grau $2$ tem raízes reais e, em caso, afirmativo, como calculá-las. Nessa postagem vamos ver uma fórmula para determinar uma raiz de um polinômio de grau 3. Essa fórmula não é muito bem conhecida e eu também não me lembro de tê-la aprendido na escola (você verá o porquê disso). O nome dessa fórmula é Fórmula de Tartaglia ou Fórmula de Cardano. O objetivo dessa postagem é apresentar essa fórmula mais a título de curiosidade, pois ela não é muito prática, na verdade. Nas postagens seguintes veremos métodos mais eficientes para determinar as raízes de um polinômio. Mas, mesmo assim, é interessante saber que existe uma fórmula para calcular uma raiz de um polinômio de grau $3$. Vamos lá!

Fórmula de Tartaglia ou Fórmula de Cardano

Qualquer polinômio de grau $3$ tem a forma $p(x) = ax^3+bx^2+cx+d$ com $a \neq 0$. Assim, para obtermos uma raiz de $p(x)$ devemos resolver a equação

$ax^3+bx^2+cx+d=0$

Equações no formato acima são chamadas de equações do terceiro grau. Procurar por uma raiz de $p(x)$ é o mesmo que procurar por uma solução da equação $ax^3+bx^2+cx+d=0$. Sendo assim, a seguir vamos procurar por uma fórmula que determine uma solução da equação $ax^3+bx^2+cx+d=0$.

Considere a equação $ax^3+bx^2+cx+d=0$. Vamos fazer uma mudança na incógnita $x$, vamos reescrevê-la como $x=y+m$ onde $m$ é um número qualquer. Desse modo podemos reescrever a equação $ax^3+bx^2+cx+d=0$ como segue:

\begin{eqnarray} ax^3 + bx^2 + cx + d &=& 0 \\ a(y+m)^3 + b(y+m)^2 + c(y+m) + d &=& 0 \\ a(y^3+3y^2m+3ym^2+m^3) + b(y^2+2ym+m^2)+cy+cm +d &=& 0 \\ ay^3+y^2(3am+b)+y(3am^2+2mb+c)+am^3+bm^2+cm+d &=& 0 \\ y^3+y^2\left(\frac{3am+b}{a}\right)+y\left(\frac{3am^2+2mb+c}{a}\right)+\frac{am^3+bm^2+cm+d}{a} &=& 0  \end{eqnarray}

Bom, olhando para a última equação que escrevemos, parece que as coisas complicaram, não é? Mas, na verdade, não. A fim de tornar a última equação mais simples, vamos determinar um $m$ para o qual $3am +b =0$. Isso deixará a última equação mais simples, pois não teremos o termo com $y^2$. Então, para que $3am+b = 0$, devemos ter

\begin{eqnarray} 3am+b &=&0 \\ 3am &=& -b \\ m &=& -\frac{b}{3a}\end{eqnarray}

Assim, na substituição que fizemos no início $x=y+m$, tomando $m=-\displaystyle\frac{b}{3a}$, conseguimos transformar a equação $ax^3+bx^2+cx+d=0$ numa equação na forma $y^3+py+q=0$, onde $p=\displaystyle\frac{3am^2+2mb+c}{a}$ e $q = \displaystyle\frac{am^3+bm^2+cm+d}{a}$. Temos que concordar que a equação $y^3+py+q=0$ é mais simples que $ax^3+bx^2+cx+d=0$. Um fato importante aqui é que, se determinarmos um $y$ que satisfaz $y^3+py+q=0$, como $x=y-\displaystyle\frac{b}{3a}$, vamos determinar um $x$ que satisfaz $ax^3+bx^2+cx+d=0$.

Vamos ver agora um exemplo de como fazer, na prática, essa mudança na incógnita $x$.

Exemplo:

1. Considere o polinômio $x^3+3x^2+x+1=0$. Nesse polinômio temos $a=1$ e $b=3$, assim, temos $m = -\displaystyle\frac{3}{3\cdot 1} = -1$. Logo, a substituição que vamos fazer é $x=y-1$ e, desse modo

\begin{eqnarray} x^3+3x^2+x+1 &=& 0 \\ (y-1)^3+3(y-1)^2+(y-1)+1 &=& 0 \\ y^3-3y^2+3y-1+3y^2-2y+1 +1 &=& 0 \\ y^3-2y+2 &=& 0. \end{eqnarray}

Fazendo a substituição $y=x-1$, transformamos a equação $x^3+3x^2+x+1=0$ na equação mais simples $y^3-2y+2=0$.

Por qual motivo fizemos essa substituição na equação do terceiro grau? O motivo de fazer essa substituição é que a fórmula que vamos obter para encontrar uma solução de uma equação do terceiro grau só pode ser aplicada em equações do tipo $x^3+px+q=0$. Desse modo, se uma equação não estiver nessa forma, precisamos primeiramente transformá-la numa equação dessa forma (como no exemplo 1) para depois aplicar a fórmula que vamos ver a seguir. Vamos seguir os passos do matemático Tartaglia (1535) para chegar na fórmula, que recebe seu nome, Fórmula de Tartaglia.

Tartaglia supôs que a solução da equação $x^3+px+q=0$ tinha a forma $x = A+B$. Desse modo, vamos ter

\begin{eqnarray} x^3 = (A+B)^3 &=& A^3+3A^2B+3AB^2+B^3 \\ &=& (A^3+B^3) + 3AB(A+B) \\ &=& (A^3+B^3)+3ABx. \end{eqnarray}

Desse modo, obtemos $x^3-3ABx-(A^3+B^3)=0$. Comparando essa última iguldade com $x^3+px+q=0$, vamos ter que
$$p=-3AB \mbox{ e } q = -(A^3+B^3)$$

Ou ainda, na forma de sistema
$$\left\{\begin{array}{ccc} A^3  +  B^3 & =& -q \\ A^3 \cdot B^3 &=& -\left(\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3. \end{array} \right.$$

Se conseguirmos resolver esse sistema, isto é, se conseguirmos encontrar $A$ e $B$ dependendo que $p$ e de $q$ (que são dados na equação $x^3+px+q=0$) vamos ter uma fórmula para resolver esta equação. Bom, aí surge uma pergunta: Como vamos resolver esse sistema? Vamos deixar o sistema acima guardado e vamos resolver, de uma forma geral, sistemas que possuem o formato do sistema acima. 

Considere o sistema

$$\left\{\begin{array}{ccc} z  +  w & =& s \\ z \cdot w &=& r. \end{array} \right.$$

Observe que esse sistema se torna aquele que queremos resolver se fizermos $z = A^3$, $w=B^3$, $s = -q$ e $r =-\left(\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3$

Afirmo que a solução do sistema anterior é $z = s \pm \displaystyle\frac{\sqrt{s^2 - 4r}}{2}$ e $w = s \mp \displaystyle\frac{\sqrt{s^2-4r}}{2}$. De fato, pela primeira equação do sistema, segue que, $w=s-z$. Substituindo essa igualdade na segunda equação, temos

\begin{eqnarray} r = z \cdot w &=& z(s-z) \\ &=& sz-z^2  \end{eqnarray}

O que implica em $z^2-sz+r=0$. Aplicando a fórmula de Bhaskara a esta última equação, vamos ter

$z = \displaystyle\frac{s \pm \sqrt{s^2+4r}}{2} = \displaystyle\frac{s}{2} \pm \displaystyle\frac{\sqrt{s^2+4r}}{2}$.

Substituindo esse $z$ em $w = s-z$, vamos ter

\begin{eqnarray} w &=& s-\left(\displaystyle\frac{s}{2} \pm \displaystyle\frac{\sqrt{s^2-4r}}{2}\right) \\ &=& s-\displaystyle\frac{s}{2} \mp \displaystyle\frac{\sqrt{s^2-4r}}{2} \\ &=& \displaystyle\frac{s}{2} \mp \displaystyle\frac{\sqrt{s^2-4r}}{2} \end{eqnarray}

Observe que, quando temos o $\pm$ como sendo $+$ em $z$, o $\mp$ em $w$ é igual a $-$ e vice versa. Portanto a solução do sistema é
$$z = \displaystyle\frac{s}{2} + \displaystyle\frac{\sqrt{s^2+4r}}{2}$$ e 
$$w = \displaystyle\frac{s}{2} - \displaystyle\frac{\sqrt{s^2+4r}}{2}.$$

Voltando ao sistema

$$\left\{\begin{array}{ccc} A^3  +  B^3 & =& -q \\ A^3 \cdot B^3 &=& -\left(\displaystyle\frac{p}{q}\right)^3. \end{array} \right.,$$

fazendo $z = A^3$, $w=B^3$, $s = -q$, $r =-\left(\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3$ e usando asolução do sistema geral que obtivemos acima, temos

\begin{eqnarray} A^3 &=& -\displaystyle\frac{q}{2}+\displaystyle\frac{1}{2}\sqrt{(-q)^2 - 4 \cdot\left(-\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3} \\ &=& -\displaystyle\frac{q}{2} + \sqrt{\left(\displaystyle\frac{q}{2}\right)^2 + \left(\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3} \end{eqnarray}

o que implica em 

$$A = \sqrt[3]{-\displaystyle\frac{q}{2} +\sqrt{\left(\displaystyle\frac{q}{2}\right)^2+\left(\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3}}$$

e

\begin{eqnarray} B^3 &=& -\displaystyle\frac{q}{2}-\displaystyle\frac{1}{2}\sqrt{(-q)^2 - 4 \cdot\left(-\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3} \\ &=& -\displaystyle\frac{q}{2} - \sqrt{\left(\displaystyle\frac{q}{2}\right)^2 + \left(\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3} \end{eqnarray}

o que implica

$$B= \sqrt[3]{-\displaystyle\frac{q}{2} -\sqrt{\left(\displaystyle\frac{q}{2}\right)^2+\left(\displaystyle\frac{p}{3}\right)^3}}.$$

Portanto, uma solução da equação $x^3+px+q=0$, ou de forma equivalente, uma raiz do polinômio $f(x) = x^3+px+q=0$ é

$$x = \sqrt[3]{-\frac{q}{2}+\sqrt{\left(\frac{q}{2}\right)^2+\left(\frac{p}{3}\right)^3}} + \sqrt[3]{-\frac{q}{2}-\sqrt{\left(\frac{q}{2}\right)^2+\left(\frac{p}{3}\right)^3}}$$

Exemplo:

2. Encontre uma raiz do polinômio $f(x) = x^3-6x-9$.
Solução: Encontrar uma raiz do polinômio $f$ é o mesmo que calcular uma solução da equaçaõ $x^3-6x-9=0$. Note que esta equação já está na forma $x^3+px+q=0$ com $p=-6$ e $q=-9$. Desse modo, aplicando a fórmula de Tartaglia, temos

\begin{eqnarray} x &=& \sqrt[3]{-\frac{q}{2}+\sqrt{\left(\frac{q}{2}\right)^2+\left(\frac{p}{3}\right)^3}} + \sqrt[3]{-\frac{q}{2}-\sqrt{\left(\frac{q}{2}\right)^2+\left(\frac{p}{3}\right)^3}} \\ &=&\sqrt[3]{-\frac{-9}{2}+\sqrt{\left(\frac{-9}{2}\right)^2 + \left(\frac{-6}{2}\right)^3}} + \sqrt[3]{-\frac{-9}{2} - \sqrt{\left(\frac{-9}{2}\right)^2+\left(\frac{-6}{2}\right)^3}} \\ &=& \sqrt[3]{\frac{9}{2}+\sqrt{\frac{81}{4}+(-2)^3}}+\sqrt[3]{\frac{9}{2}-\sqrt{\frac{81}{4}+(-2)^3}} \\ &=& \sqrt[3]{\frac{9}{2}+\sqrt{\frac{81}{4}-8}}+\sqrt[3]{\frac{9}{2}-\sqrt{\frac{81}{4}-8}}  \\ &=& \sqrt[3]{\frac{9}{2}+\sqrt{\frac{49}{4}}}+\sqrt[3]{\frac{9}{2}-\sqrt{\frac{49}{4}}} \\ &=& \sqrt[3]{\frac{9}{2}+\frac{7}{2}}+\sqrt[3]{\frac{9}{2}-\frac{7}{2}} \\ &=& \sqrt[3]{\frac{16}{2}}+\sqrt[3]{\frac{2}{2}} \\ &=& \sqrt[3]{8}+\sqrt[3]{1} = 2+1 = 3  \end{eqnarray}

Portanto $x=3$ é uma raiz do polinômio $f(x) = x^3-6x-9$.

Observação:

(i) Nem sempre a fórmula de Tartaglia fornece uma raiz real. A expressão dentro das raízes quadradas pode ser negativa dependendo do $p$ e do  $q$.

(ii) Essa fórmula é bem complicada e, assim, não é muito útil, até por que ela nos dá somente uma raiz que pode não ser real. Nas próximas postagens veremos maneiras mais eficientes de encontrar as raízes de um polinômio de grau $3$.

(iii) Se o polinômio não estiver na forma $x^3+px+q$, vai ser ainda mais complicado encontrar uma de suas raízes pela fórmula de Tartaglia, pois antes de aplicar a fórmula deve ser feita uma mudança na variável $x$. (Talvez por isso não te ensinaram isso na escola)

(iv) Todo polinômio de grau 3 possui pelo menos uma raíz real.

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 No post anterior começamos a estudar métodos para encontrar raízes de polinômios. Começamos bem do começo mesmo, dos polinômios de grau $1$. Nessa postagem vamos avançar em nossos estudos sobre raízes de polinômios, vamos ver uma forma de determinar se um polinômio de grau $2$  possui raízes reais e, se possuir, vamos estudar formas de determiná-las. Vamos lá!

Raízes reais de polinômios de grau 2 (equação do segundo grau)

Considere $f(x)$ um polinômio de grau $2$ sobre $\mathbb{R}$. Desse modo, $f(x)$ possui a seguinte forma:
$f(x) = ax^2+bx+c$ com $a \neq 0$.

Uma raiz de $f(x)$ é um valor de $x$ para o qual $f(x) = 0$, ou seja, uma raiz de $f(x)$ vai satisfazer a equação
$ax^2+bx+c = 0$

Qualquer equação no formato da equação acima é chamada de equação do segundo grau. Assim, as raízes de um polinômio de grau $2$ são as soluções de uma equação do segundo grau (também conhecida como equação quadrática) formada pelo polinômio igualado a $0$.

Para verificarmos se um equação do segundo grau $ax^2+bx+c=0$ possui solução real (ou equivalentemente, se um polinômio $f(x) = ax^2+bx+c$ possui raízes reais) usamos uma fórmula chamada Fórmula de Bhaskara, que é dada por

$x = \displaystyle\frac{-b \pm \sqrt{b^2 - 4ac}}{2a}$.

Essa fórmula também pode ser escrita em duas partes, denotando por $\Delta$ (letra maiúscula do alfabeto grego chamada Delta) o que está dentro da raiz, ficando na forma

$\Delta = b^2 - 4ac \mbox{ e } x = \displaystyle\frac{-b \pm \sqrt{\Delta}}{2a}$

Os números $a$, $b$ e $c$ que estão na fórmula de Bhaskara são os mesmos que estão na equação $ax^2+bx+c=0$.

Como estamos interessados em raízes reais ou soluções reais, é interessante usar a Fórmula de Bhaskara em duas partes. O Delta é usado para saber se uma equação do segundo grau não possui raízes reais, se possui somente uma raiz real ou se possui duas raízes reais. Ele é usado da seguinte forma:
  • Se $\Delta < 0$, $f$ não possui raiz real;
  • Se $\Delta = 0$, vamos ter $x = \displaystyle\frac{-b \pm \sqrt{0}}{2a} = \displaystyle\frac{-b}{2a}$, ou seja, $f$ possui somente uma raiz $x = \displaystyle\frac{-b}{2a}$;
  • Se $\Delta > 0$, vamos ter $x = \displaystyle\frac{-b \pm \sqrt{\Delta}}{2a}$, ou seja, temos duas raízes, a saber, $x_1 = \displaystyle\frac{-b + \sqrt{\Delta}}{2a}$ e $x_2 = \displaystyle\frac{-b - \sqrt{\Delta}}{2a}$.
Se você quiser saber mais detalhes sobre a Fórmula de Bhaskara e de onde ela veio, veja essa postagem:


Vamos ver agora alguns exemplos de como usar a Fórmula de Bhaskara para determinar as raízes de um polinômio de grau $2$.

Exemplos:

1. Determine as raízes do polinômio $f(x) = 2x^2+5x-3$.
Solução: Vamos aplicar a fórmula de Bhaskara. Para isso, precisamos saber quem são os coeficientes $a,b$ e $c$ da fórmula. Temos $f(x) = 2x^2+5x-3$, o que nos dá $a=2$, $b=5$ e $c=-3$. Substituindo esses valores na fórmula de Bhaskara, temos:
$$\Delta = 5^2 - 4 \cdot 2 \cdot (-3) = 25+24 = 49 \mbox{ e }$$
$$x = \displaystyle\frac{-5 \pm \sqrt{49}}{2 \cdot 2} = \displaystyle\frac{-5 \pm 7}{4}$$
$$\Rightarrow x_1 = \displaystyle\frac{-5 + 7}{4} = \displaystyle\frac{2}{4} = \displaystyle\frac{1}{2} \mbox{ e } x_2 = \displaystyle\frac{-5 - 7}{4} = \displaystyle\frac{-12}{4} = -3.$$

Portanto, $f$ possui duas raízes, $x_1 = \displaystyle\frac{1}{2}$ e $x_2 = -3$.

2. Verifique se o polinômio $g(x) = x^2+4x+5$ possui raízes reais.
Solução: Nesse exercício basta calcular $\Delta$, pois por meio dele saberemos se $g$ possui raízes reais. Nesse exemplo temo $a=1$, $b=4$ e $c=5$. Vejamos:
$$\Delta = 4^2 - 4 \cdot 1 \cdot 5 = 16-20 = -4.$$

Como $\Delta < 0$, o polinômio $g$ não possui raízes reais.

3. Calcule as raízes polinômio $f(x) = -3x^2+1$.
Solução: Basta aplicar a Fórmula de Bhaskara. Aqui nós temos $a=-3$, $b = 0$ e $c = 1$, assim:
$$\Delta = 0^2 - 4 \cdot (-3) \cdot 1 = 12 \mbox{ e }$$
$$x = \displaystyle\frac{0 \pm \sqrt{12}}{2 \cdot (-3)} = \displaystyle\frac{\pm 2\sqrt{3}}{-6} = \displaystyle\frac{ \mp \sqrt{3}}{3}.$$
Assim, as raízes de $f$ são $x_1 = \displaystyle\frac{-\sqrt{3}}{3}$ e $x_2 = \displaystyle\frac{\sqrt{3}}{3}$.

4. Quais são as raízes de $h(x) = x^2 - x$?
Solução: Nesse exemplo temos $a = 1$, $b = -1$ e $c =0$. Novamente, pela fórmula de Bhaskara, temos:
$$\Delta = (-1)^2 - 4 \cdot 1 \cdot 0 = 1 \mbox{ e }$$
$$x = \displaystyle\frac{-(-1) \pm \sqrt{1}}{2 \cdot 1} = \displaystyle\frac{1 \pm 1}{2}$$
Assim, as raízes de $f$ são $x_1 = 1$ e $x_2 = 0$.

5. Determine as raízes do polinômio $f(x) = \displaystyle\frac{1}{4}x^2 -3x+9$.
Solução: Aplicando a fórmula de Bhaskara para $a = \displaystyle\frac{1}{4}$, $b = -6$ e $c = 9$, temos:
$$\Delta = (-3)^2 - 4 \cdot \displaystyle\frac{1}{4} \cdot 9 = 9-9=0 \mbox{ e }$$
$$x = \displaystyle\frac{-(-3) \pm \sqrt{0}}{2 \cdot \frac{1}{4}} = \displaystyle\frac{3}{\frac{1}{2}} = 6.$$
Assim, $f$ possui somente uma raiz $x = 6$.

 A Fórmula de Bhaskara serve para determinar as raízes de qualquer polinômio sobre $\mathbb{R}$, por esse motivo ela é muito importante. Porém, em alguns casos particulares de polinômios de grau $2$, ela não é necessária para encontrar as raízes desses polinômios, há formas mais simples de determinar as raízes. A seguir vamos ver esses casos particulares e as formas alternativas que podemos usar para determinar as raízes desses casos particulares.

Exemplos: 

Função quadrática na forma $f(x) = ax^2+bx$

6. Determine as raízes do polinômio $f(x) = 2x^2+3x$.
Solução: Fazendo $2x^2+3x=0$, temos, colocando $x$ em evidência,
$$x(2x+3)=0.$$
Assim, as raízes são $x=0$ e
$$2x+3=0$$
$$2x=-3$$
$$x=-\displaystyle\frac{3}{2}.$$

Função quadrática na forma $f(x) = ax^2-c$ ($a, c \in \mathbb{R}$ com $a,c >0$ ou $a,c<0$)

7. Determine as raízes do polinômio $f(x) = 4x^2-8$.
Solução: Fazendo $4x^2 - 8 =0$, vamos ter
$$4x^2 - 8 = 0$$
$$4x^2 = 8$$
$$x^2 = \displaystyle\frac{8}{4}$$
$$x^2 = 2.$$
$$x = \pm \sqrt{2}$$
Assim, as raízes de $f$ são $x_1 = \sqrt{2}$ e $x_2 = -\sqrt{2}$.

8. Determine as raízes do polinômio $g(x) = -x^2+9$.
Solução: Fazendo $-x^2+9 =0$, vamos ter
$$-x^2 + 9 = 0$$
$$-x^2 = -9$$
$$x^2 = 9$
$$x = \pm \sqrt{9}$$
Assim, as raízes de $g$ são $x_1 = \sqrt{9}=3$ e $x_2 = -\sqrt{9}=-3$.

Soma e Produto

Além da Fórmula de Bhaskara e esses casos particulares mencionados acima, há ainda uma outra forma de determinar as raízes de um um polinômio de grau $2$ chamada Soma e Produto. Esse método para encontrar as raízes de um polinômio de grau $2$ não dispensa a Fórmula de Bhaskara, a Soma e Produto só pode ser aplicada em alguns casos. Vejamos mais detalhes sobre a Soma e Produto a seguir.

Considere um polinômio $f(x) = x^2+bx+c$, ou seja, com  $a=1$. Suponha que $f$ possua duas raízes $m, n \in \mathbb{R}$ que podem ser iguais. Se $m$ e $n$ são raízes de $f$, pode ser provado (usando divisão de polinômios) que $f$ pode ser escrita na forma:
$$f(x) = (x-m)(x-n).$$
Fazendo a distributiva no segundo membro da igualdade acima, temos
$$f(x) = x^2-xn-mx+mn = x^2-(m+n)x+mn.$$
Desse modo, temos a igualdade:
$$x^2+bx+c =  x^2-(m+n)x+mn,$$
que só é possível se $b = -(m+n)$ e $c = mn$. Portanto, se sabemos que $f$ possui duas raízes $m$ e $n$ ainda desconhecidas, que podem ser iguais, para determiná-las, basta encontrarmos dois números $m$ e $n$ tais que $b = -(m+n)$ e $c = mn$. Essa método é chamado Soma e Produto 

Exemplos

9. Determine as raízes do polinômio $f(x) = x^2-5x+6$.
Solução: Nesse polinômio temos $b=-5$ e $c=6$. De acordo a soma e produto, se encontrarmos dois números reais $m$ e $n$ tais que $-(m+n) = -5$ e $mn = 6$, esses números são raízes de $f$. Observe que, para $m=2$ e $n=3$ valem $-(2+3) = -5$ e $2 \cdot 3 = 6$. Logo as raízes do polinômio $f$ são $x_1 = 2$ e $x_2 = 3$.

10. Determine as raízes o polinômio $f(x) = x^2 +3x-4$.
Solução: Nesse polinômio temos $b=3$ e $c=-4$. De acordo com a regra soma e produto, se encontrarmos dois números reais $m$ e $n$ tais que $-(m+n) = 3$, ou ainda $m+n=-3$ e $mn = -4$, esses números são raízes de $f$. Observe que, para $m=-4$ e $n=1$ valem $(-4+1) = -3$ e $(-4) \cdot 1 = -4$. Logo as raízes da função quadrática $f$ são $x_1 = -4$ e $x_2 = 1$.

11. Determine as raízes do polinômio $g(x) = 2x^2-3x-2$.
Solução: Aparentemente, não é possível usar soma e produto para calcular as raízes do polinômio $g$ pois $a = 2 \neq 1$. Porém podemos usar sim. Observe que a equação
$$2x^2-3x-2=0 \mbox{ é equivalente a } 2(x^2-\frac{3}{2}x-1)=0.$$
Isto é, para encontrar as raízes de $g$, basta encontrarmos as soluções da equação
$$x^2-\frac{3}{2}x-1=0.$$
Observe que podemos usar soma e produto para determinar as raízes de $h(x) = x^2-\frac{3}{2}x-1$. Note que $-(-\frac{1}{2}+ 2) = -\frac{3}{2}$ e $-\frac{1}{2} \cdot 2 =  -1$. Desse modo, as soluções de $f$ são $x_1 = -\frac{3}{2}$ e $x_2 = 2$.

Exemplo em vídeo:




Observação:
(a) Apesar da soma e produto ser aparentemente mais fácil de se usar para obter as raízes de um polinômio, ela não tem o poder de nos dar a informação sobre a existência de raízes reais de um polinômio. Além disso, dependendo dos coeficientes $b$ e $c$, vai ficar difícil de encontrar as raízes por soma e produto. Então, é aconselhável saber como usar a Fórmula de Bhaskara, pois ela sempre funciona.

(b) A regra soma e produto não facilita as contas em qualquer caso, por exemplo, considere o polinômio
$$f(x) = x^2 +\sqrt{2}x-\pi.$$
Esse polinômio possui duas raízes reais distintas $m$ e $n$. Por meio de soma e produto, devemos determinar $m$ e $n$ tais que $-(m+n) = \sqrt{2}$ e $mn = \pi$. Essa com certeza não é uma tarefa fácil. Logo, nesse caso deve-se se usar a velha e boa fórmula de Bhaskara.

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Nas duas postagens anteriores definimos o que é uma raiz de um polinômio e vimos algumas de suas propriedades, mas não vimos ainda nenhum método para encontrar as raízes de um polinômio. Dado um polinômio qualquer, não é fácil encontrar as suas raízes. Conforme o grau do polinômio aumenta, mais difícil é encontrar suas raízes, ou ainda, verificar se ele possui raiz ou não. Por esse motivo, vamos estudar métodos diferentes para encontrar as raízes de um polinômio de acordo com seu grau. Vamos começar pelo começo, vamos ver uma forma de encontrar a raiz de um polinômio de grau $1$. Determinar a raiz de um polinômio de grau $1$ é a mesma coisa que resolver uma equação do primeiro grau. A seguir na postagem veremos mais detalhes sobre isso. Vamos lá!

Como encontrar a raiz de um polinômio de grau 1 (equação do primeiro grau)

Dado um polinômio de grau $1$, ele vai ter a forma $p(x) = ax + b$ com $a \neq 0$ ($a$ deve ser diferente de $0$ pois do contrário $p(x)$ não teria grau $1$). Para encontrar uma possível raiz desse polinômio, basta procurarmos por um valor de $x$ tal que $p(x) = 0$, ou seja,
$ax+b = 0$.
Equações no formato da equação acima são chamadas de equação do primeiro grau, justamente por serem um polinômio de grau $1$ igual a $0$. Assim, determinar a raiz de um polinômio de grau $1$ é a mesma coisa que resolver uma equação do primeiro grau.

Um polinômio de grau $1$ sempre possui uma raiz, independentemente de estar sobre $\mathbb{R}$ ou $\mathbb{C}$ e essa raiz é única. Essa afirmação pode ser reescrita na seguinte forma, toda equação do primeiro grau possui uma única solução. Vamos provar isso. Para tanto, vamos isolar o $x$ em um dos lados dequação $ax+b=0$, ou seja, deixar o $x$ sozinho em um dos lados da equação. Somando $-b$ em ambos os lados da equação $ax+b=0$, vamos ter 
\begin{eqnarray} ax+b &=& 0 \\ ax+b-b &=& 0-b \\ ax &=& -b. \end{eqnarray} 
Agora, observe que, como $a \neq 0$, existe o número $\displaystyle\frac{1}{a}$ inverso de $a$. Multiplicando ambos os lados da última equação por $\displaystyle\frac{1}{a}$, vamos ter
\begin{eqnarray} \frac{1}{a} \cdot ax &=& \frac{1}{a} \cdot (-b) \\ 1 \cdot x &=& -\frac{b}{a} \\ x &=& -\frac{b}{a}, \end{eqnarray}
isto é, o valor de $x$ é $x = -\displaystyle\frac{b}{a}$.
Para concluirmos que $x = -\displaystyle\frac{b}{a}$ é de fato solução da equação $ax+b=0$, vamos substituir esse valor da $x$ na equação. Vejamos
$a \cdot \left(-\displaystyle\frac{b}{a}\right) + b = -b+b = 0$ 

Com isso, provamos que a solução de qualquer equação na forma $ax+b=0$ é $x=-\displaystyle\frac{b}{a}$. Consequantemente, provamos que $x = -\displaystyle\frac{b}{a}$ é raiz do polinômio $p(x) = ax+b$.

Observe novamente a seguinte conta
\begin{eqnarray} ax+b &=& 0 \\ ax+b-b &=& 0-b \\ ax &=& -b. \end{eqnarray}
Se você olhar somente a primeira e a terceira linha, você verá que o $b$ passou do lado esquerdo da equação para o lado direito e virou $-b$. Esse é o famoso "passa para o outro lado e troca o sinal". A segunda linha tem a explicação  do por que isso acontece quando resolvemos uma equação, passar para o outro lado com o sinal trocado é na verdade somar o oposto de um número dos dois lados da equação, o que não altera a igualdade. Passar para o outro lado com o sinal trocado não é uma mágica.

Observe agora essa outra conta
\begin{eqnarray} ax &=& -b \\ \frac{1}{a} \cdot ax &=& \frac{1}{a} \cdot (-b) \\ 1 \cdot x &=& -\frac{b}{a} \\ x &=& -\frac{b}{a}, \end{eqnarray}

Se você olhar a primeira e a última linha, você vai perceber que o $a$ que multiplicava o $x$ do lado esquerdo da equação passou para o outro lado dividindo o $-b$. Mais uma vez, isso não é mágica. Isso ocorre por que multiplicamos ambos os lados da equação por $\displaystyle\frac{1}{a}$, o que não altera a equação.Isto pode ser visto na segunda e terceira linhas.

Desse modo estão justificados as contas de "passar para o outro lado com o sinal trocado" e "passar o que está multiplicando para o outro lado dividindo". Fazemos isso com o objetivo de deixar o $x$ sozinho em um dos lados do sinal de igual para determinarmos o seu valor.

Falta mostrar que a solução $x=-\displaystyle\frac{b}{a}$ de $ax+b=0$ é única. Para provar isso, vamos supor que exista uma outra solução $x=c$ dessa equação. Assim,
\begin{eqnarray} a \cdot c +b &=& 0 \\ a \cdot c &=& -b \\ c &=& -\frac{b}{a},  \end{eqnarray}
isto é, $c = -\displaystyle\frac{b}{a}$ e, assim, não pode existir outra solução.

Agora podemos calcular a raiz de um polinômio de grau, pois sabemos que essa raiz existe e é única. Vamos fazer isso repetindo o processo que fizemos para provar a existência da solução da equação $ax+b=0$. Vejamos alguns exemplos.

Exemplos:

1. Calcule a raiz do polinômio $p(x) = 3x-4$.
Solução: Conforme vimos acima, basta resolver a equação $3x-4=0$. Primeiramente, vamos passar o $-4$ para o outro lado da equação. Quando ele muda de lado, ele muda de sinal (ele vai para o outro lado como sendo $-(-4) = +4$). Assim, vamos ter
$$3x=4$$.
Agora, só falta passa o $3$ que está multiplicando o $x$ dividindo o $4$. Desse modo
$$x = \displaystyle\frac{4}{3}.$$

Esta é a raiz do polinômio $p(x)$.

2. Determine a raiz do polinômio $f(x) = -4x +2$.
Solução: Vamos resolver da mesma forma. Temos
\begin{eqnarray} -4x+2 &=& 0 \\ -4x &=& -2 \\ x &=& \frac{-2}{-4} \\ x &=& \frac{1}{2}. \end{eqnarray}

3. Determine a raiz do polinômio $g(x) = \displaystyle\frac{x}{2} + 1$.
Solução: O processo para determinar a raiz de um polinômio de grau $1$ é sempre o mesmo. Temos
\begin{eqnarray} \displaystyle\frac{x}{2} + 1 &=& 0 \\ \displaystyle\frac{x}{2} &=& -1 \\ x &=& 2 \cdot (-1) \\ x &=& -2.  \end{eqnarray}
Observe que o $2$ estava dividindo o $x$ no lado esquerdo da equação e passou para o outro lado multiplicando o $-1$. Isso ocorre por que o que é feito nesse passo é multiplicar os dois lados da equação pelo inverso de $\displaystyle\frac{1}{2}$ que é igual a $2$ (observe que $\frac{1}{2}$ está multiplicando $x$ no lado esquerdo da equação).

4. Calcule a raiz do polinômio $h(x) = 5x + \displaystyle\frac{3}{2}$.
Solução: Temos o seguinte,
\begin{eqnarray} 5x - \frac{3}{2} &=& 0 \\ 5x &=& \frac{3}{2} \\ x &=& \frac{\frac{3}{2}}{5} \\ x &=& \frac{3}{2} \cdot \frac{1}{5} \\ x &=& \frac{3}{10}. \end{eqnarray}

Observe que na terceira linha da resolução há um divisão de frações, a saber, $\displaystyle\frac{\frac{3}{2}}{\frac{1}{5}}$.

5. Calcule a raiz do polinômio $l(x) = \displaystyle\frac{3}{4}x + \displaystyle\frac{1}{2}$.
Solução: Fazendo as contas, temos
\begin{eqnarray} \frac{3}{4}x = \frac{1}{2} &=& 0 \\ \frac{3}{4}x &=& -\frac{1}{2} \\ x &=& \frac{-\frac{1}{2}}{\frac{3}{4}} \\ x &=& -\frac{1}{2} \cdot \frac{4}{3} \\ x &=& -\frac{4}{6} = -\frac{2}{3}.\end{eqnarray}

Exemplo em vídeo:




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Na postagem #5 vimos como fazer a divisão entre dois polinômios, uma operação que, apesar de parecer difícil, na verdade não é. Quando dividimos um polinômio $f(x)$ por um polinômio $g(x)$ obtemos um quociente $q(x)$ e um resto $r(x)$ tais que 

$f(x)  = g(x) \cdot q(x) + r(x)$ onde $r(x) = 0$ ou $gr(r(x)) < gr(g(x))$.

onde $q(x)$ e $r(x)$ são únicos. Em geral, para determinar $r(x)$ em uma divisão de polinômios, é necessário fazer a conta de divisão mesmo, mas em um caso específico, podemos encontrar o resto da divisão entre dois polinômios sem fazer a conta de divisão. Interessante, não? Em alguns problemas de matemática isso pode ser muito útil, pois diminui consideravelmente a quantidade de cálculos. Esse caso específico de divisão é abordado por um teorema chamado Teorema do Resto. Bom, sem enrolações, vamos aprender o Teorema do Resto a ver quando podemos determinar o resto da divisão de dois polinômios sem fazer a divisão desses polinômios.

Teorema do Resto

No teorema a seguir, o conjunto $\mathbb{K}$ representa $\mathbb{R}$ ou $\mathbb{C}$.

Teorema: (Teorema do Resto) Seja $f(x)$ um polinômio com coeficientes em $\mathbb{K}$. Dado $a \in \mathbb{K}$, o resto da divisão de $f(x)$ por $x-a$ é igua a $f(a)$.

O que o teorema do resto está dizendo é o seguinte: Quando você precisar dividir qualquer polinômio $f(x)$ por um outro polinômio que tenha exatamente a forma $x-a$, não é necessário fazer a divisão de $f(x)$ por $x-a$ para obter o resto $r(x)$, basta aplicar $f(x)$ em $a$ e você vai obter o resto da divisão, isto é, basta calcular $f(a)$ e você terá $r(x) = f(a)$ (um polinômio constante).

Vamos ver alguns exemplos de como aplicar esse teorema:

Exemplos:

1. Considere os polinômios $f(x) = 3x^4-x^3 - x^2 + 2x -4$ e $g(x) = x-2$. Determine o resto da divisão de $f(x)$ por $g(x)$. 
Solução: Como sabemos agora, há duas formas de determinar o resto dessa divisão, podemos efetuar a divisão propriamente dita ou podemos usar o teorema do resto. Vamos fazer esse exemplo usando essas duas maneiras de resolver para compararmos os restos obtidos em cada uma delas para ver se realmente são iguais. Vejamos

Fazendo a divisão de $f(x)$ por $g(x)$: Fazendo a divisão de $f(x)$ por $g(x)$, obtemos
Teorema do resto

Pelas contas acima, obtemos $r(x) = 36$ como resto da divisão de $f(x)$ por $g(x)$.

Usando o Teorema do Resto: Para usar o teorema do resto devemos identificar quem é $a$. Como $g(x) = x-2$, comparando este polinômio com o enunciado do teorema do resto, obtemos $a=2$. Assim, o teorema do resto nos garante que o resto da divisão de $f(x)$ por $g(x)$ é $f(2)$. Vamos calcular $f(2)$:
\begin{eqnarray} f(2) &=&  3\cdot 2^4-2^3 - 2^2 + 2 \cdot 2 -4 \\ &=& 3 \cdot 16 - 8 - 4 + 2 \cdot 2 - 4 \\ &=& 48 -8 - 4+4-4 \\ &=& 36 \end{eqnarray}

Viu só? Usando o teorema do resto obtivemos $r(x) = 36$, o mesmo resultado que obtivemos na divisão acima, mas com bem menos contas.

Lembre-se a partir de agora, se você tiver um polinômio qualquer $f(x)$ e precisar saber o resto da divisão desse polinômio por um outro polinômio na forma $x-a$, basta calcular $f(a)$, este será o resto da divisão de $f(x)$ por $x-a$. Vamos ver mais um exemplo.

2. Considere os polinômios $f(x) = x^5-x^3+2x^2+3$ e $g(x) = x+1$. Calcule o resto da divisão de $f(x)$ por $g(x)$. 
Solução: Vamos fazer esse exemplo usando o Teorema do Resto. Observe que $g(x) = x+1$ e que, para usar o teorema do resto, o divisor deve estar na forma $x-a$. Assim, neste caso, temos $a = -1$ pois $x+1 = x-(-1)$. Logo, para calcular o resto dessa divisão devemos calcular $f(-1)$. Vejamos,
\begin{eqnarray} f(-1) &=& (-1)^5-(-1)^3+2 \cdot (-1)^2+3 \\ &=& -1 - (-1) + 2 \cdot 1 + 3 \\  &=& -1+1+2+3 = 5.\end{eqnarray}
Portanto, pelo Teorema do Resto, o resto da divisão de $f(x)$ por $g(x)$ é $r(x) = 5$.

Quero reforçar aqui mais uma vez, o Teorema do Resto só pode ser aplicado se o divisor tiver a forma $g(x) = x-a$. Vamos fazer a seguir um contraexemplo, ou seja, um exemplo onde o Teorema do Resto não pode ser usado.

3. Considere os polinômios $f(x) = -2x^2+x+1$ e $g(x) = 3x-2$. Calcule o resto da divisão de $f(x)$ por $g(x)$.
Solução: Como o divisor $g(x)$ não é da forma $x-a$, ou seja, ele possui o $3$ multiplicando o $x$, o Teorema do Resto não pode ser aplicado. Aqui, para calcular o resto, devemos fazer a divisão mesmo. Desse modo, 
Divisão de polinômios

Obtemos então como resto da divisão de $f(x)$ por $g(x)$ o polinômio $r(x) = \displaystyle\frac{7}{9}$.

Agora, vamos calcular $f(2)$.
\begin{eqnarray} f(2) &=& -2 \cdot 2^2 + 2 +1 \\ &=& -2 \cdot 4 +2 +1 \\ &=& -8+2+1 = -5. \end{eqnarray}

Temos que $f(2) = -5$ que é diferente do resto $r(x) = \displaystyle\frac{7}{9}$ que obtivemos anteriormente. Então, se  o divisor não tiver a forma $x-a$ exatamente, não use o Teorema do Resto, faça a divisão.

Deixei um bônus para o final da postagem, a demonstração do Teorema do Resto.

Demonstração do Teorema do Resto: Considere $f(x)$ um polinômio qualquer e $g(x) = x-a$, ambos com coeficientes em $\mathbb{K}$. Aplicando o Algoritmo da Divisão para os polinômios $f(x)$ e $g(x)$ vamos encontrar únicos $q(x)$ e $r(x)$ tais que 

$f(x) = (x-a) \cdot q(x) + r(x)$ com $r(x) = 0$ ou $gr(r(x)) < gr(x-a) = 1$.

Desse modo, o resto $r(x)$ é um polinômio constante. Agora, aplicando $f(x)$ em $a$, vamos ter
\begin{eqnarray} f(a) &=& (a-a) \cdot q(a) + r(a) \\ &=& 0 \cdot q(a) + r(a) \\ &=& r(a). \end{eqnarray}

Desse modo, concluímos que $r(a) = f(a)$. Como anteriormente já havíamos concluído que $r(x)$ é um polinômio constante, vamos ter que $r(x) = f(a)$ para todo $x \in \mathbb{K}$ pois, se ele é constante e conhecemos seu valor em $a$, esse deve ser o mesmo valor para todo $x$. Portanto $r(x) = f(a)$ e o teorema está demonstrado.

Exemplo em vídeo:




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