Na postagem #5 vimos como fazer a divisão entre dois polinômios, uma operação que, apesar de parecer difícil, na verdade não é. Quando dividimos um polinômio f(x) por um polinômio g(x) obtemos um quociente q(x) e um resto r(x) tais que
f(x)=g(x)⋅q(x)+r(x) onde r(x)=0 ou gr(r(x))<gr(g(x)).
onde q(x) e r(x) são únicos. Em geral, para determinar r(x) em uma divisão de polinômios, é necessário fazer a conta de divisão mesmo, mas em um caso específico, podemos encontrar o resto da divisão entre dois polinômios sem fazer a conta de divisão. Interessante, não? Em alguns problemas de matemática isso pode ser muito útil, pois diminui consideravelmente a quantidade de cálculos. Esse caso específico de divisão é abordado por um teorema chamado Teorema do Resto. Bom, sem enrolações, vamos aprender o Teorema do Resto a ver quando podemos determinar o resto da divisão de dois polinômios sem fazer a divisão desses polinômios.
Teorema do Resto
No teorema a seguir, o conjunto K representa R ou C.
Teorema: (Teorema do Resto) Seja f(x) um polinômio com coeficientes em K. Dado a∈K, o resto da divisão de f(x) por x−a é igua a f(a).
O que o teorema do resto está dizendo é o seguinte: Quando você precisar dividir qualquer polinômio f(x) por um outro polinômio que tenha exatamente a forma x−a, não é necessário fazer a divisão de f(x) por x−a para obter o resto r(x), basta aplicar f(x) em a e você vai obter o resto da divisão, isto é, basta calcular f(a) e você terá r(x)=f(a) (um polinômio constante).
Vamos ver alguns exemplos de como aplicar esse teorema:
Exemplos:
1. Considere os polinômios f(x)=3x4−x3−x2+2x−4 e g(x)=x−2. Determine o resto da divisão de f(x) por g(x).
Solução: Como sabemos agora, há duas formas de determinar o resto dessa divisão, podemos efetuar a divisão propriamente dita ou podemos usar o teorema do resto. Vamos fazer esse exemplo usando essas duas maneiras de resolver para compararmos os restos obtidos em cada uma delas para ver se realmente são iguais. Vejamos
Fazendo a divisão de f(x) por g(x): Fazendo a divisão de f(x) por g(x), obtemos
Pelas contas acima, obtemos r(x)=36 como resto da divisão de f(x) por g(x).
Usando o Teorema do Resto: Para usar o teorema do resto devemos identificar quem é a. Como g(x)=x−2, comparando este polinômio com o enunciado do teorema do resto, obtemos a=2. Assim, o teorema do resto nos garante que o resto da divisão de f(x) por g(x) é f(2). Vamos calcular f(2):
f(2)=3⋅24−23−22+2⋅2−4=3⋅16−8−4+2⋅2−4=48−8−4+4−4=36
Viu só? Usando o teorema do resto obtivemos r(x)=36, o mesmo resultado que obtivemos na divisão acima, mas com bem menos contas.
Lembre-se a partir de agora, se você tiver um polinômio qualquer f(x) e precisar saber o resto da divisão desse polinômio por um outro polinômio na forma x−a, basta calcular f(a), este será o resto da divisão de f(x) por x−a. Vamos ver mais um exemplo.
2. Considere os polinômios f(x)=x5−x3+2x2+3 e g(x)=x+1. Calcule o resto da divisão de f(x) por g(x).
Solução: Vamos fazer esse exemplo usando o Teorema do Resto. Observe que g(x)=x+1 e que, para usar o teorema do resto, o divisor deve estar na forma x−a. Assim, neste caso, temos a=−1 pois x+1=x−(−1). Logo, para calcular o resto dessa divisão devemos calcular f(−1). Vejamos,
f(−1)=(−1)5−(−1)3+2⋅(−1)2+3=−1−(−1)+2⋅1+3=−1+1+2+3=5.
Portanto, pelo Teorema do Resto, o resto da divisão de f(x) por g(x) é r(x)=5.
Quero reforçar aqui mais uma vez, o Teorema do Resto só pode ser aplicado se o divisor tiver a forma g(x)=x−a. Vamos fazer a seguir um contraexemplo, ou seja, um exemplo onde o Teorema do Resto não pode ser usado.
3. Considere os polinômios f(x)=−2x2+x+1 e g(x)=3x−2. Calcule o resto da divisão de f(x) por g(x).
Solução: Como o divisor g(x) não é da forma x−a, ou seja, ele possui o 3 multiplicando o x, o Teorema do Resto não pode ser aplicado. Aqui, para calcular o resto, devemos fazer a divisão mesmo. Desse modo,
Obtemos então como resto da divisão de f(x) por g(x) o polinômio r(x)=79.
Agora, vamos calcular f(2).
f(2)=−2⋅22+2+1=−2⋅4+2+1=−8+2+1=−5.
Temos que f(2)=−5 que é diferente do resto r(x)=79 que obtivemos anteriormente. Então, se o divisor não tiver a forma x−a exatamente, não use o Teorema do Resto, faça a divisão.
Deixei um bônus para o final da postagem, a demonstração do Teorema do Resto.
Demonstração do Teorema do Resto: Considere f(x) um polinômio qualquer e g(x)=x−a, ambos com coeficientes em K. Aplicando o Algoritmo da Divisão para os polinômios f(x) e g(x) vamos encontrar únicos q(x) e r(x) tais que
f(x)=(x−a)⋅q(x)+r(x) com r(x)=0 ou gr(r(x))<gr(x−a)=1.
Desse modo, o resto r(x) é um polinômio constante. Agora, aplicando f(x) em a, vamos ter
f(a)=(a−a)⋅q(a)+r(a)=0⋅q(a)+r(a)=r(a).
Desse modo, concluímos que r(a)=f(a). Como anteriormente já havíamos concluído que r(x) é um polinômio constante, vamos ter que r(x)=f(a) para todo x∈K pois, se ele é constante e conhecemos seu valor em a, esse deve ser o mesmo valor para todo x. Portanto r(x)=f(a) e o teorema está demonstrado.
Exemplo em vídeo:
Gostou do conteúdo dessa postagem? Foi útil para você? Tem alguma dúvida? Deixe um comentário.
0 Comentários:
Postar um comentário